O ar saiu de sua boca lentamente, sentindo a brisa por entre os lábios, os olhos pesados ficavam fechados como se fossem imãs a se atrair, o corpo estava leve, fraco, sem força, apenas um desligar em meio aquelas rochas e do fluido férreo, as pálpebras estremeciam, como o chão estava aos passos pesados do pesadelo a sair de lá após a destruir. Seu corpo se contraiu languidamente os braços se envolveram, porque quando estamos com medo, quando sentimos dor, nós trememos? mesmo sem estar frio? talvez seja a necessidade de sentir calor, calor de alguém a te abraçar. Aquele furo em sua carne, atravessava a derme, mas já havia anestesiado de alguma forma, as lagrimas refletiam com seus olhos, formando aquela cor cristalina de azul e verde com um pouco de lilás. Saiu de seu peito usando o resto de ar, um choro de soluços pausado, como impactos na barriga que faziam o mesmo som de uma risada, mas era um choro amargo, um implorar por um lugar bom, que nada a ferisse, que nada a pressionasse, tentava ter forças para se levantar, mas quando a cavaleira usou a pouca força, apenas conseguiu para abrir os olhos em direção aquele celeste onde tinha as nuvens mais macias de todas, até que sentiu uma força contra suas têmporas que logo a fez perder sua consciência…
Breu, porque quando estamos dentro de nós é tão escuro, e não um branco límpido onde podemos pintar? aquilo era sua duvida eterna. E assim ficou um bom tempo presa naquele escuro até que o ar entrou por sua boca lentamente. seus pulmões se encheram junto com a dor que sentia na perna, um grande furo em sua coxa, ao menos não perfurou alguma artéria. Assim se inclinou apoiando nas pedras, nenhum risco estava ali, mas a qualquer hora poderia surgir, aquilo fazia seu coração puro e honrado apertar, logo se levantou com o sangue a escorrer por toda sua perna, sua lamina quebradiça em mãos, e foi a passos confiantes para o seu funeral, para depois reviver e se afundar naquele ciclo infinito novamente. O campo era aberto, tinha as vezes alguns pequenos animais, mas o verde completava tudo, era quase um horizonte de mato colorido com o laranja do sol, as nuvens eram incrivelmente baixas naquela área, o que deixava qualquer humana vulnerável para ataques dos seres. Sua armadura de aço pesava e dificultava ainda mais os passos lentos e assustados mas corajosos da nobre loira. Cada andar ia mais e mais para perto do reino, as construções de pedra e metal eram brilhantes na luz, e mais e mais iria encontrar seu povo que carregava as vidas em sua espada, em meio ao escarlate, se aproximou do reino e assim todos ali a viam andar forte e decidida ver sua família, viva por uma esperança.
Cessou os passos. parou em frente a uma casa simples e bonita, suas luvas de metal faziam ecoar ainda mais o bater da porta, quando aquela se abriu, era a hora de sua dor de verdade. A mãe encarou ela com decepção, com um peso que a fazia querer tirar logo sua armadura, mas claro que lutaria pelos outros. A mulher e o homem mais velhos a guiaram até a cozinha, seu irmão a desculpando abria os fechos da armadura deixando ela apenas com sua malha, até que começou a ficar mais fraca pela falta de sangue e não conseguir andar. Não via mais como andar em frente, mas tinha que continuar. Lutar. “mulheres conseguem carregar vida em suas barrigas e você não consegue carregar sua honra? quantas cavaleiras já não mataram dragões gigantes? e você não mata nem um grifo! Katherinne, você tem que ser forte. seu irmão te ajuda com toda a armadura e você o retribui a sujando dessa forma?” essa era a responsabilidade das mulheres. Salvar seu reino. Os homens são mais forte fisicamente e por isso devem construir, cuidar, e as mulheres, que mais suportam as dores, que tem o coração puro, devem carregar a honra. Os olhos arco-iris ficavam focados no teto, deitada a mesa de madeira e apenas vestindo sua malha, seus pais jogavam o cloreto de sódio ali em meio a sua carne, não respirava para polpar sua família de gritos, mas dava para ver o desespero naquele olhar, o misto de cores de sua iris era cintilante, sua dor psicológica a fazia chorar, a fazia sentir o coração parar, mas ao mesmo tempo, sabia que iria passar por alguns instantes. Aquilo fez o ferimento parar de sangrar, depois de uma dor desnecessária e dita como um aprendizado para ela crescer. como se sua derrota e dor já não fosse, como se cada rígido passo em meio ao campo não fosse. O irmão olhava para baixo penosamente e direcionou o olhar para os arco-iris da guerreira, murmurando que iria melhorar e fazer uma armadura ainda mais resistente. Aquilo a fez sorrir. Agora era só esperar o tempo cicatrizar, mas sabia, que antes de tudo aquilo curar por completo, o pesadelo voltaria, mas aquilo se chama…viver. O comodismo com sua dor perene a fez parar de pensar que apesar de não ter a força física, tinha a força de seu coração. O que fez ela continuar com a espada em mãos além da sociedade? ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário