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Contos escritos por mim~ beapuririn

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Alice sem dentes

       



        Estava silencio, a escuridão parecia branca pela clareza calma que reinava minha mente, uma musica, uma melodia que era um acalento de tão calma, me deixava segura, apesar de eu que não conseguia mover meus braços, minhas pernas, todo meu corpo, apenas a sentir a áspera textura das cordas, quanto tempo eu estava sentada naquela cadeira? Mas mesmo assim não me importava, minha mente estava no céu, na grande pureza doce, até então ouvir passos, um ruído, e logo, um puxão no tecido que cobria meus olhos. Uma mascara de Coelho, um Coelho branco de olhos maliciosos, avermelhados e vivos, uma mascara? Tinha o corpo de um humano, que trajava um terno escuro e logo chegou mais e mais deles naquele quarto completamente branco. Olhavam fixos a mim, e meus olhos dançavam a procurar diferenças naqueles incontáveis coelhos imóveis que observavam com um olhar inlegível e vazio, até um trazer uma chave de fenda, para o que era aquilo? Como eu fui parar ali? Logo um dos coelhos enfiou a mão em minha boca e puxou minha cabeça, ficando inclinada para trás, e um outro, puxava minha mandíbula para baixo, o que eles iam fazer? Onde estava o calmo e confortável branco? Será que sou diferente das outras pessoas? Agora eu implorava para o tal branco voltar, aquela musica voltar, calma voltar, aquele mundo voltar, aquela voltar, aquela venda voltar, aquela venda voltar, a q u e l a v e n d a  v o l t a r .
      Quando eu notei, aquele metal era atirado e forçado contra meus dentes, até quebra-los, os pequenos pedaços que ainda estavam em minha gengiva, era forçados a entrar mais na minha carne tão rígida, o liquido vermelho estava me sufocando, afogando enquanto escorria pela minha língua, a ponto de eu não conseguir gritar, mas meu peito implorava por ar, e de meus olhos não saiam mais gotas salinas, mas respingava as gotas com gosto de ferrugem, eu tossia com o pouco ar que tinha, logo, engoli, mas de mal jeito, o que fez os coelhos quebrarem os de trás, a dor era inefável, dentes, algo tão normal, algo que nunca pensamos em perder, não é um órgão vital, qualquer um pode viver sem eles. Mas pode sorrir sem eles? As pinças tiraram os dentes na raiz, e a poça de sangue já me deixava tonta a colorir o branco com um contraste belo, como a pele alva de uma bela sádica com seu vestido vermelho, os coelhos saíram pela porta que nem sabia que existia. Maior que a dor física, e os vários furos de carniça que tinham agora em minha boca me fizeram chorar, apesar de não ter mais água em meu corpo, apenas cinco dentes sobraram, os dois maiores de cima, e três de baixo, arfava, meus olhos estavam abertos, como se procurasse esperança naquele teto, queria secar o sangue do meu queixo, e quando notei, estava sem as cordas. E me toquei, meus dedos sem nem eu comandar foram ao meu rosto, essa era eu, mas antes eu era eu, mas agora, eu não tenho algo que muitos tem. Dentes. Minha mente parecia negar, mas a dor afirmava, e logo, um impulso me levou ao chão, a procurar naquele mar escarlate algum único, ou sequer brilhinho branco de um dente, nada, sair? Não tinha saída, o que aconteceu, aconteceu. Nada pode voltar atrás. Soluçava, e em um berro de sentir ecoar em minha cabeça, eu fui abrindo algumas gavetas da sala, colheres, pedras grandes, caixas vazias, era como se eu tivesse regredido, ao modo animal que todo humano tem, e todos aqueles objetos iam a minha boca, mas não cabia, nenhum ocupava o lugar, apenas aumentava a dor. Me encolhi, e sem nem notar dormi. acordei, dormi, acordei, dormi, acordei, dormi, acordei, dormi, acordei, dormi, dias e dias quando acordei. 
       Todos os segundos a se lembrar dos sorrisos que já dei, do sorriso dos outros, da alegria, da calma, da venda, da…. Ilusão? Não. Da vida. Minha gengiva? Agora estava cicatrizada, na verdade eu sentia um fio, talvez algo ajudou a fechar o ferimento, mas tudo estava cicatrizado apesar da inflamação continuar levemente, os dentes que sobraram? Pareceram crescer, ficar fortes, e a carne ao redor deles também, mais dura e grande. Peguei uma caixa, e vi que roendo eu conseguia tirar farpas mais fácil, nunca esperei isso, e quando os coelhos notaram isso, um deles abriu a porta, deixando aberta e correu, foi quando então, corri atrás, segui o coelho até uma grande mesa, onde vários idênticos a ele estavam a tomar sopa, me sentei na ponta, se estava com ódio deles? vingança? Algo ecoava dentro de mim, estava confusa, eles fizeram bem para mim? Resolveu suspirar e voltaria tomar a sopa rapidamente pelo espaço vazio de sua boca agora. Como era adaptável ficar sem os dentes, olhei pela janela da toca , varias pessoas a sorrir na estação, aquilo me doeu, doeu lá no fundo. Quem eu seria para essas pessoas? Quem eu seria agora? Quem eu sou agora? Eu sou a Alice sem dentes. Lagrimas caem. Apenas o som ambiente de pessoas, ou melhor, coelhos a conversar baixo. Mas eu já fiz um molde para uma prótese dentaria, será que vai me fazer sorrir novamente? 

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