SomniisFleur

Contos escritos por mim~ beapuririn

terça-feira, 5 de dezembro de 2017




Em meio aos livros estava você.
Em sessões diferentes, de temas destoantes, mas ali naquele vão, naquele espaço vazio entre os livros que provavelmente foram alugados, que me fazia ver um outro ângulo das as coisas, estava você. E vi ali naqueles olhos, vi que ali naquela pele ebúrnea como uma folha de papel, estava a história que eu queria ler. Era um livro que não podia se julgar pela capa, era completamente questionável o seu conteúdo e isso era o mais excitante de tudo. Imaginava já o seu sumário só por admirar a capa, quais seriam as temáticas, o clímax e até a palavra mais usada. Não existe nada tão emocionante quanto sentir cheiro de livro novo, é como o início de uma viagem! E eu sentia isso perfeitamente em você. A vontade incessante de sentir a textura das páginas e sentir a emoção de cada palavra, sorrisos daquele que não dá para segurar, marcar você com um pouco de mim, nem que seja com uma folha seca para voltar a ler de onde estava ou até com uma gota em uma de suas páginas, uma história nossa. Isso era encantador. Era o passado desenhando a base para um presente novo em um futuro cheio de reflexos tão lindos quanto a biblioteca com aquele tom alaranjado do por do sol.
Em meio a todos os livros, foi você o livro que me deixou tão curiosa.

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017


       Os pecados se anulam por completo, as lembranças boas permanecem e é tão intenso e idealizado que quase sobrepõe o dos vivos. Aquele eclipse que todos desejam ver no céu cobrindo a luz de uma forma tão mórbida e bela. Aquele amor doloroso de uma forma egoísta e positiva, aquela dor que poeticamente não quer e nem se permite curar. Por mais odiável e por mais pecados cometidos, a pessoa que agora está a sete palmos do chão se torna na mente, palavra e coração, a sete mil palmos da terra. As lembranças são como aquelas artes sacras pintadas na abóboda da igreja. A tortura emocional que todos querem. A Vitimização que todos querem. O morto se torna uma ferramenta egoísta de afeição e ao mesmo tempo uma maravilhosa reflexão.       As vezes eu queria morrer só por um tempinho. Para mobilizar tanto amor, mesmo que falso. Para ser perdoada, pelos míseros e pequenos atos. 
       



        Estava silencio, a escuridão parecia branca pela clareza calma que reinava minha mente, uma musica, uma melodia que era um acalento de tão calma, me deixava segura, apesar de eu que não conseguia mover meus braços, minhas pernas, todo meu corpo, apenas a sentir a áspera textura das cordas, quanto tempo eu estava sentada naquela cadeira? Mas mesmo assim não me importava, minha mente estava no céu, na grande pureza doce, até então ouvir passos, um ruído, e logo, um puxão no tecido que cobria meus olhos. Uma mascara de Coelho, um Coelho branco de olhos maliciosos, avermelhados e vivos, uma mascara? Tinha o corpo de um humano, que trajava um terno escuro e logo chegou mais e mais deles naquele quarto completamente branco. Olhavam fixos a mim, e meus olhos dançavam a procurar diferenças naqueles incontáveis coelhos imóveis que observavam com um olhar inlegível e vazio, até um trazer uma chave de fenda, para o que era aquilo? Como eu fui parar ali? Logo um dos coelhos enfiou a mão em minha boca e puxou minha cabeça, ficando inclinada para trás, e um outro, puxava minha mandíbula para baixo, o que eles iam fazer? Onde estava o calmo e confortável branco? Será que sou diferente das outras pessoas? Agora eu implorava para o tal branco voltar, aquela musica voltar, calma voltar, aquele mundo voltar, aquela voltar, aquela venda voltar, aquela venda voltar, a q u e l a v e n d a  v o l t a r .
      Quando eu notei, aquele metal era atirado e forçado contra meus dentes, até quebra-los, os pequenos pedaços que ainda estavam em minha gengiva, era forçados a entrar mais na minha carne tão rígida, o liquido vermelho estava me sufocando, afogando enquanto escorria pela minha língua, a ponto de eu não conseguir gritar, mas meu peito implorava por ar, e de meus olhos não saiam mais gotas salinas, mas respingava as gotas com gosto de ferrugem, eu tossia com o pouco ar que tinha, logo, engoli, mas de mal jeito, o que fez os coelhos quebrarem os de trás, a dor era inefável, dentes, algo tão normal, algo que nunca pensamos em perder, não é um órgão vital, qualquer um pode viver sem eles. Mas pode sorrir sem eles? As pinças tiraram os dentes na raiz, e a poça de sangue já me deixava tonta a colorir o branco com um contraste belo, como a pele alva de uma bela sádica com seu vestido vermelho, os coelhos saíram pela porta que nem sabia que existia. Maior que a dor física, e os vários furos de carniça que tinham agora em minha boca me fizeram chorar, apesar de não ter mais água em meu corpo, apenas cinco dentes sobraram, os dois maiores de cima, e três de baixo, arfava, meus olhos estavam abertos, como se procurasse esperança naquele teto, queria secar o sangue do meu queixo, e quando notei, estava sem as cordas. E me toquei, meus dedos sem nem eu comandar foram ao meu rosto, essa era eu, mas antes eu era eu, mas agora, eu não tenho algo que muitos tem. Dentes. Minha mente parecia negar, mas a dor afirmava, e logo, um impulso me levou ao chão, a procurar naquele mar escarlate algum único, ou sequer brilhinho branco de um dente, nada, sair? Não tinha saída, o que aconteceu, aconteceu. Nada pode voltar atrás. Soluçava, e em um berro de sentir ecoar em minha cabeça, eu fui abrindo algumas gavetas da sala, colheres, pedras grandes, caixas vazias, era como se eu tivesse regredido, ao modo animal que todo humano tem, e todos aqueles objetos iam a minha boca, mas não cabia, nenhum ocupava o lugar, apenas aumentava a dor. Me encolhi, e sem nem notar dormi. acordei, dormi, acordei, dormi, acordei, dormi, acordei, dormi, acordei, dormi, dias e dias quando acordei. 
       Todos os segundos a se lembrar dos sorrisos que já dei, do sorriso dos outros, da alegria, da calma, da venda, da…. Ilusão? Não. Da vida. Minha gengiva? Agora estava cicatrizada, na verdade eu sentia um fio, talvez algo ajudou a fechar o ferimento, mas tudo estava cicatrizado apesar da inflamação continuar levemente, os dentes que sobraram? Pareceram crescer, ficar fortes, e a carne ao redor deles também, mais dura e grande. Peguei uma caixa, e vi que roendo eu conseguia tirar farpas mais fácil, nunca esperei isso, e quando os coelhos notaram isso, um deles abriu a porta, deixando aberta e correu, foi quando então, corri atrás, segui o coelho até uma grande mesa, onde vários idênticos a ele estavam a tomar sopa, me sentei na ponta, se estava com ódio deles? vingança? Algo ecoava dentro de mim, estava confusa, eles fizeram bem para mim? Resolveu suspirar e voltaria tomar a sopa rapidamente pelo espaço vazio de sua boca agora. Como era adaptável ficar sem os dentes, olhei pela janela da toca , varias pessoas a sorrir na estação, aquilo me doeu, doeu lá no fundo. Quem eu seria para essas pessoas? Quem eu seria agora? Quem eu sou agora? Eu sou a Alice sem dentes. Lagrimas caem. Apenas o som ambiente de pessoas, ou melhor, coelhos a conversar baixo. Mas eu já fiz um molde para uma prótese dentaria, será que vai me fazer sorrir novamente? 
      



      O ar saiu de sua boca lentamente, sentindo a brisa por entre os lábios, os olhos pesados ficavam fechados como se fossem imãs a se atrair, o corpo estava leve, fraco, sem força, apenas um desligar em meio aquelas rochas e do fluido férreo, as pálpebras estremeciam, como o chão estava aos passos pesados do pesadelo a sair de lá após a destruir. Seu corpo se contraiu languidamente os braços se envolveram, porque quando estamos com medo, quando sentimos dor, nós trememos? mesmo sem estar frio? talvez seja a necessidade de sentir calor, calor de alguém a te abraçar. Aquele furo em sua carne, atravessava a derme, mas já havia anestesiado de alguma forma, as lagrimas refletiam com seus olhos, formando aquela cor cristalina de azul e verde com um pouco de lilás. Saiu de seu peito usando o resto de ar, um choro de soluços pausado, como impactos na barriga que faziam o mesmo som de uma risada, mas era um choro amargo, um implorar por um lugar bom, que nada a ferisse, que nada a pressionasse, tentava ter forças para se levantar, mas quando a cavaleira usou a pouca força, apenas conseguiu para abrir os olhos em direção aquele celeste onde tinha as nuvens mais macias de todas, até que sentiu uma força contra suas têmporas que logo a fez perder sua consciência… 
      Breu, porque quando estamos dentro de nós é tão escuro, e não um branco límpido onde podemos pintar? aquilo era sua duvida eterna. E assim ficou um bom tempo presa naquele escuro até que o ar entrou por sua boca lentamente. seus pulmões se encheram junto com a dor que sentia na perna, um grande furo em sua coxa, ao menos não perfurou alguma artéria. Assim se inclinou apoiando nas pedras, nenhum risco estava ali, mas a qualquer hora poderia surgir, aquilo fazia seu coração puro e honrado apertar, logo se levantou com o sangue a escorrer por toda sua perna, sua lamina quebradiça em mãos, e foi a passos confiantes para o seu funeral, para depois reviver e se afundar naquele ciclo infinito novamente. O campo era aberto, tinha as vezes alguns pequenos animais, mas o verde completava tudo, era quase um horizonte de mato colorido com o laranja do sol, as nuvens eram incrivelmente baixas naquela área, o que deixava qualquer humana vulnerável para ataques dos seres. Sua armadura de aço pesava e dificultava ainda mais os passos lentos e assustados mas corajosos da nobre loira. Cada andar ia mais e mais para perto do reino, as construções de pedra e metal eram brilhantes na luz, e mais e mais iria encontrar seu povo que carregava as vidas em sua espada, em meio ao escarlate, se aproximou do reino e assim todos ali a viam andar forte e decidida ver sua família, viva por uma esperança.

       Cessou os passos. parou em frente a uma casa simples e bonita, suas luvas de metal faziam ecoar ainda mais o bater da porta, quando aquela se abriu, era a hora de sua dor de verdade. A mãe encarou ela com decepção, com um peso que a fazia querer tirar logo sua armadura, mas claro que lutaria pelos outros. A mulher e o homem mais velhos a guiaram até a cozinha, seu irmão a desculpando abria os fechos da armadura deixando ela apenas com sua malha, até que começou a ficar mais fraca pela falta de sangue e não conseguir andar. Não via mais como andar em frente, mas tinha que continuar. Lutar. “mulheres conseguem carregar vida em suas barrigas e você não consegue carregar sua honra? quantas cavaleiras já não mataram dragões gigantes? e você não mata nem um grifo! Katherinne, você tem que ser forte. seu irmão te ajuda com toda a armadura e você o retribui a sujando dessa forma?” essa era a responsabilidade das mulheres. Salvar seu reino. Os homens são mais forte fisicamente e por isso devem construir, cuidar, e as mulheres, que mais suportam as dores, que tem o coração puro, devem carregar a honra. Os olhos arco-iris ficavam focados no teto, deitada a mesa de madeira e apenas vestindo sua malha, seus pais jogavam o cloreto de sódio ali em meio a sua carne, não respirava para polpar sua família de gritos, mas dava para ver o desespero naquele olhar, o misto de cores de sua iris era cintilante, sua dor psicológica a fazia chorar, a fazia sentir o coração parar, mas ao mesmo tempo, sabia que iria passar por alguns instantes. Aquilo fez o ferimento parar de sangrar, depois de uma dor desnecessária e dita como um aprendizado para ela crescer. como se sua derrota e dor já não fosse, como se cada rígido passo em meio ao campo não fosse. O irmão olhava para baixo penosamente e direcionou o olhar para os arco-iris da guerreira, murmurando que iria melhorar e fazer uma armadura ainda mais resistente. Aquilo a fez sorrir. Agora era só esperar o tempo cicatrizar, mas sabia, que antes de tudo aquilo curar por completo, o pesadelo voltaria, mas aquilo se chama…viver. O comodismo com sua dor perene a fez parar de pensar que apesar de não ter a força física, tinha a força de seu coração. O que fez ela continuar com a espada em mãos além da sociedade? ...


Monotonia.
Era o que preenchia aquela vida, o que movia a mão naquele traço marcante da vívida cor vermelha em meio aquelas letras tortas de grafite, era o que corroía cada resto de alma daquele homem. Os pensamentos eram rotineiros, como o de um robô programado, onde nem a própria mente variava. Acordava e já se colocava a andar com passos cambaleantes pela casa. Pegar o telefone e ligar para sua mãe, ir ao banheiro se barbear, comer sua comida que descia como uma massa asquerosa pela garganta e ir à escola corrigir as redações das crianças da sexta à oitava série. Depois era comer mais, higiene pessoal e logo depois dormir, dormir para não se render a insanidade de alguém sem vida.
       Roboticamente fez tudo que fazia de manhã e se sentou naquela cadeira…quente? Onde costumava trabalhar. Uma pilha de papéis estava ali esperando para ser corrigida. Suspirou, tomando ar e coragem para começar tudo aquilo, pegou a primeira e pôs à sua frente. Seus olhos passeavam pela folha, mas não lia com o coração, lia com a mente. Frígido…“bonbeiros”… que erro idiota, assim riscou e escreveu o certo em cima, voltando a um ciclo cansativo. Riscos e números. O cinza tomou sua vida, e as únicas cores que viviam era o escarlate vermelho da caneta e um pouco do azul do uniforme da delicada menina que as vezes ia o ver ali, com que intuito? Nem ele mesmo sabia. Era recorrente algumas alunas cobrar mais nota dele, e por um pequeno ato de bondade as vezes aumentava meio ponto. Já estava na metade daquelas folhas que o exigiam toda a atenção, ironicamente por não ler de verdade, e foi quando aconteceu a primeira surpresa que foi ouvir a voz da menina que sempre vinha, o que será que ela tinha? Estava com aquelas mãos de dedos finos na lateral da porta, e aqueles cabelos negros em um penteado mal feito de coque lateral, onde saia os fios mas de uma forma bonita. A voz dela era suave e aveludada, parecia entrar em sua mente como uma canção. “Você corrige redações, não é professor? ” o adulto ouviu aquilo se perguntando internamente com que intenção ela falava aquilo, mas por outro lado, era inevitável um conforto, algo diferente na sua rotina rígida como uma pedra, uma pedra que era como um túmulo para sua alma que quase nem existia mais. Ele mantinha os olhos castanhos na folha mas falou gentilmente com a voz levemente rouca, quase a sumir “eu era professor substituto. Até que os outros professores estavam com a carga horária muito cheia e agora corrijo a redação de vocês, as vezes algumas provas. Enfim, matou sua curiosidade?” Apenas após responder se pôs a olhar ela com aquela expressão gentil, mas lúgubre se olhasse no fundo daqueles olhos. Aqueles olhos pueris acinzentados e brilhantes que ela tinha. Admirava os menores. Eram tão cheios de vida, de cores, de alegrias. Quando a realidade não agrada, eles apenas tampam os ferimentos com coisas boas, invejava tanto aquilo. A pureza, a verdade, os sonhos, eram características que toda criança tinha, e adorava preservar aquilo. Mas isso apenas o piorava ainda mais internamente, pois estava longe de ser assim. Sua vida era um inferno torturante. Aquele momento tão doce só podia ser efêmero, pois a realidade não era pura como aquela aluna, ela tinha apenas sorrido e saído, logo que ele respondeu. Porfiava dúvidas em sua mente, mas balançou a cabeça de leve e voltou a corrigir sendo engolido pela melancolia novamente, não conseguia nem se acostumar com sua realidade por passar tanto tempo nela, porque quando dormia seus sonhos eram felizes, o que fazia ele ver ainda mais que nunca seria capaz de ser feliz. Soltou o ar que guardava pesadamente e respirou como um voto de coragem, havia corrigido todas. Segurou sua maleta de trabalho envolvendo os dedos na alça e se pôs a andar para casa, que não era tão perto de lá.
        Abriu os olhos. Porque abrir os olhos e não dormir mais? Trabalho. Seu único valor para o mundo, nem o seu nome alguém sabia. Era apenas sua profissão, professor. E mais que, isso era um ser humano. Virou-se trêmulo tomando suas pílulas que ficavam na mesa do lado animalescamente, engolia várias vezes e se deitou novamente. Olhando para o teto, branco, alvo como uma folha de papel, que era como sua mente naquele momento. Até que quando o silêncio estava a pairar de uma forma de acalmar qualquer um, ouviu um grito do apartamento da frente, para variar, a vizinha com síndrome do pânico depois de usar drogas. Porque nunca havia tentado? Talvez esse fosse o método mais rápido de tentar distrair sua mente. A mola de sua cama rangeu quando perdeu o peso que estava sobre ela, fez tudo o que deveria fazer, como um bom robô deveria fazer. As nuvens escondiam qualquer resquício do sol, deixando o escuro e o frio prevalecer, conversas paralelas, carros, aqueles sons o envolviam em um certo vazio absoluto, o tintilar do pequeno sino da loja de conveniências o deu uma ideia. Adentrou a loja vendo as cores das embalagens até chegar ao caixa “Um maço por favor.” O vendedor perguntou preferência de marca e ele falou qualquer uma ali exposta. Hesitante, ao ver o homem que parecia ter sua idade dar uma risada, com a caixa em mãos, foi saindo até que o vendedor se direcionou a ele “Hein! Não vai querer um isqueiro não?” Ele se lembrou desse detalhe e meio ficou constrangido voltando ao caixa. O ruivo irônico vendeu ao professor e olhando nos olhos dele deu um meio sorriso afiado “ Bom pirulito de câncer para você. Dá para ver na sua cara que nunca fumou!” Com uma risada ele se afastou indo ao fundo da loja, ignorou aquilo. Era previsível assim? Era tão explícito o que sentia ou pensava? Não gostava de pensar daquela forma. Saiu da loja, cigarro na boca, isqueiro na mão, e a primeira vez que aquela fumaça era respirada ele tossia como se estivesse engasgado, provavelmente era o pouco de saúde que ainda tinha que não queria estar naquele corpo e saia por sua garganta, e até suas entranhas ficariam negras como sua mente. Deu uma risada forçada, rindo de si mesmo por tal atitude idiota, guardou no bolso e foi para a escola. Cadeira, folhas, caneta. Ao menos tinha poucos para corrigir dessa vez. “ Você chegou atrasado…” Aquela voz, virou-se bruscamente, era a mesma menina que sempre o vinha ver, depois de muito tempo, deu um resquício de sorriso, depois de muito tempo, alguém ver ele como alguém era muito gratificante. Mas porque ela fazia isso? “ Um dia você lê uma redação para mim? Ou você pode ler uma minha!”… Sua mente não conteve a pergunta indelicada. “ por que está perguntando? Por que está sempre aqui? Não tem mais nada para fazer? ” ela olhou para baixo e saiu. Parecia triste, aquilo o corroeu e estragou tudo o que tinha acontecido de quase bom no dia. A tristeza sempre iria superar qualquer felicidade vã e efêmera.
       Um dia ouviu dizer que os bebês choravam ao nascer porque o mundo era muito ruim e eles queriam voltar para o quentinho do útero. Então pode se dizer que era um bebê. Mas sua mãe tinha Alzheimer, assim as vezes ligava, mesmo ela não o conhecendo era uma mulher muito animada, então falava seu estado físico. Ir a escola. Como sempre. Mas era quinta, mais alguns dias e o fim de semana chegaria. O dia de tomar remédios para dormir. Sentou-se olhando aquelas letras tortas. Tema: disserte sobre o ultimo sonho que teve. Típico tema, já havia corrigido algumas desse. Até que sentiu uma presença, mas já imaginou quem era, murmurou uma audível e reprimido… “Desculpe ter sido indelicado.” Aquela risada meiga preencheu sua mente, e a doce menina respondeu animada “tudo bem! É que você sempre esteve sozinho, nenhum professor, ninguém fala com você!” Ele deu um meio sorriso onde a gentileza e a tristeza se fundiam, assim ela se aproximou tocando no ombro dele e lendo por cima da redação sobre a mesa “ Nossa! Que tema estranho para se sonhar né? Estupro…. Professor professor! Imagina se tudo isso… Fosse real? Como assim? Huhu! Você sempre coloca um pouco de si em tudo que escreve! Você tem um cargo importante! Não só corrigindo como vendo o que se passa com meus amigos de classe né? Hum, logo vai tocar o sinal. Um dia quer que eu te faça companhia aqui?…. T-Tchau!” Maçaneta puxada e porta fechada. Suspiro pesado. Parou por alguns segundos que se tornaram minutos, sem nenhum movimentos exterior, mas sua mente estava um emaranhado confuso onde a linha de pensamentos havia se perdido há muito tempo, mas os feixes de pensamentos eram como nuvens escuras a tomar o céu nublado. Tudo aquilo era verdade? As pessoas se espelham em cada linha exigida pelos professores? Assim começou a ler aquela redação languidamente cruel, seus murmúrios eram como uma oração, tinha um costume estranho de quando concentrado demais ler em voz baixa. Naquelas linhas retratava um sonho confuso onde uma doce garotinha era violada por um homem horrendo de cabelos negros curtos, curvo e usava uma gravata, que foi usada para amordaçá-la. Aquilo era desumano, contraia os dedos contra sua mão com força, como seu punho desejasse descontar todo o ódio que o subiu, o ódio cego que era capaz de o fazer perder a consciência. Os dedos foram ao seu couro cabeludo como um impulso, onde se arranhou olhando para aquele texto. Aquilo era insano, mas insanidade não era o que desejava? Pessoas insanas são felizes pois são inconsequentes como crianças a aprontar no parquinho do jardim de infância. Lia coisas como aquelas todos os dias e não tinha visão disso? Como era iludido. Sempre olhando para baixo, não via o que estava à sua frente, aquele muro que precisava ser quebrado. Aquele era o sentido de sua vida? Mudar tudo aquilo? Como apenas algumas palavras de uma estudante mudou tanto sua vida? Estava enlouquecendo, deu uma risada nervosa e baixa como se tivesse tirando sarro de si mesmo. Começava a ler atentamente, com seu coração, todas as redações que haviam na pilha, eram belas, tristes outras feitas de qualquer forma por alunos que queriam apenas se divertir e não ter nota, tinha algumas tão absurdas que chegava a ser cômico, aquilo era a essência infantil que tanto admirava. Pousou a caneta e deitou a cabeça na mesa, ainda pensava em algumas redações tão tristes que havia lido, queria salvar elas, queria fazer a mente dessa criança não ser negra como a dele, e assim depois de um tempo, a sua mente moldava cada arma enquanto suas pernas o levavam para casa.
        Sábado. Um dia que sem trabalho, não havia sentindo algum, mas agora sua mente guiava suas pernas para lugar nenhum, a cidade cinzenta tinha tantos rostos, cada ser humano ali tinha uma vida, uma história, um coração. Uma das redações que havia lido falava sobre uma mulher que cozinhava nuvens, e logo que passou em frente a um supermercado havia uma mulher com uma panela, era ela. O mundo era tão lindo daquela forma que ele estava vendo, nunca imaginou que uma aluna pudesse o mudar tanto, seus passos eram silenciosos em meio a tanto barulho ao seu redor, os carros, as conversas, o vento. Como se o vento fosse o seu guia do dia, estava andando, até que sentiu uma pressão em seu ombro, brusca o suficiente para o fazer despertar, mas mais que isso, despertar de sua calma, cabelos negros curtos, curvo, seu terno monocromático tirando pela gravata escarlate, a cor forte que fez gritos que chiavam em sua cabeça ficarem ainda mais altos a ponto de se sentir tonto e o sangue lhe subir, que sensação era aquela? Era um frenesi, uma gravata vermelha que lhe cobria os olhos, mas insanidade não era o que desejava? Tossia, como se algo quisesse sair de dentro dele, seus dedos pressionaram-se contra o ombro do homem que parecia preocupado, se sentia culpado. “M-Me leva ali!” O vento que o guiava ajudou a levar palavras tão sussurradas aos ouvidos do homem de terno, segurando o professor, o levou até o beco sem questionar, ali, a pureza seria salva, jamais corrompida. Sua mão trêmula, o titeriteiro não estava a controlar bem o seu marionete? Estava. Pegou a gravata do homem que já respirava forte para gritar, mas logo sua boca foi tampada pelo vermelho, assim como fez com a menina, o frenesi estava a dominar o professor por completo, que pegou a chave de casa e segurando entre o indicador e o do meio contra a palma de sua mão, um punho controlado pela mão do salvador da pureza, os gritos abafados do homem não eram ouvidos por ninguém, até o ferro entrar em sua têmpora, sentia a carne quase do nervo ocular, uma risada nervosa, a gravata, a caneta que corrigia, os olhos que ardiam em lágrimas de desespero , tudo aquilo, toda a sua vida era afogada em um vermelho forte e macabro como aquele sangue em sua mãos, não, não, não! Aquele céu sobre ele, azul como o terno da pura aluna o guiava novamente, precisava esconder os vestígios, não, precisava parecer que ele havia caído de um prédio de cabeça, a respiração era bem mais rápida que o barulho irritante que o relógio faz, e seu coração regulava com isso, sentindo pontadas que quase emergiam de seu peito. Segurou a caçamba de lixo, e soltou na cabeça do homem, um barulho estranho, e logo, o encéfalo escorria, róseo acinzentado, asqueroso e viscoso da entranhas, aquilo não parecia humano, e seu estômago revirava querendo vomitar, mas imaginou um sorriso infantil doce, agora tudo estava certo… Quem estava ali? O som de passos. Quando seus olhos mareados subiram, viram o semblante chocado da doce aluna dos belos cabelos negros, palavras não o saiam da boca. Até que saem da dela. “Meu…. Meu herói!” E correu abraçando o adulto que tremia em desespero e orgulho do feito violento. “Eu escondo o corpo! Corre! Corre para fora daqui professor!”, e assim fez, o homem em meio a uma loucura saiu correndo pelo asfalto, contra o vento, em direção para casa, com aquela chave ensanguentada em sua mão, a menininha olhava para aquele corpo, finalmente alimento, ela se ajoelhou, e com aqueles olhos tão meigos encarava o peito do homem, aquela mão de dedos finos estavam com unhas animalescas, que perfuraram a caixa torácica do homem e logo de seus lábios rosados e pequenos escorriam a carne que seus dentes trituravam, não era tão fácil para humanos, mas para ela sim. aquela textura macia e quase emborrachada, consistente, que por trás tinha fluidos corpóreos que adorava saborear, precisava logo chegar ao intestino, um toque, curiosa a pequenina segurou o celular o cadáver [lembrete- formatura da filha], “que irônico~ Huhu!” E logo tornou a devorar, esse talvez fora o humano mais fácil de manipular. Henry Darger.

domingo, 3 de dezembro de 2017

     



 Quando um bárbaro aponta a espada para você, é como se aquele aguçado estivesse rocando de uma forma tão visceral que é indiscutível o frio no estômago, daqueles que permanecem ate se tornarem quentes como quando se dá um arranhão em sua pele. Você olha para aqueles olhos tão cheios de ódio, e você, que não tem peso nenhum sobre os ombros se pergunta porque sua consciência ganhou alguns quilos sendo que você conscientemente não fez nada. Quando você sabe a sua culpa, você já vestiu sua armadura para aquela arma, mas quando o ódio alheio lhe deseja o matar, sem você nem mesmo ter o conhecimento antes, é como se jogassem um mendigo em meio o coliseu. Dá aquela adrenalina que parece que foi injetada. Você sabe que tal bárbaro não pode te ferir agora, mas você teme o próximo movimento, e isso passa muito além de uma colisão de ideias ou de uma simples guerra canal e física. Se torna uma luta de psicológicos, incessantemente tentando afligir o outro. O bárbaro é um ser racional, o que o transformou em um bárbaro, foi algo que mobilizou a vida dele e agora esta sobre você. Sua mente tenta tomar saídas lógicas, buscam a razão para tal raiva animalesca. Alguma atitude, algum erro, tudo começa a surgir em sua memória. 
       Mas você vê, que tudo que fez foi seguir sua vida tranquilamente. O que meus passos, ao meu caminho… fizeram no caminho de outro? Talvez seja isso, talvez seja aquilo, sua mente toma uma conclusão. E para aliviar aquela queimação nervosa no seu estômago, sua mente toma aquele motivo achado como uma verdade inquestionável. Talvez seja certa? Talvez seja errada? Sua mente não quer mais ouvir. Mas e o bárbaro? Ele tem uma boa endole? Ele é um carnívoro? Ele é apenas caótico? Ele está agindo assim de uma forma flexível o suficiente para uma conversa? Você responde finalmente. Com um olhar. Que diz muito do que você tanto pensa. Não era um olhar de ódio. Ela de medo? De compreensão? De gentileza? De tristeza? Provavelmente tudo isso em um misto enigmático, mas assim como você, a mente do bárbaro já tomou sua verdade que seria piamente aquela. Ele logo pode ate distorcer e chamar seu olhar de desprezo, mas esse bárbaro, de tão ….indescritível, apenas virou as costas depois da ameça. Não queria enxergar outra visão, não hesitaria em te ferir, estava movido pelo ódio. Te preenchendo de pensamentos que tanto lhe torturam a mente até que se toma uma conclusão. É melhor não reagir. É melhor não fugir. É melhor não ver isso como uma ameaça, mas como uma trivialidade qualquer do dia a dia. Ruim obviamente, mas deve não deixar sua mente se quebrar nesse jogo psicológico. Deve se ver as dádivas das pequenas coisas que você olha ao redor, se distrair, ver o lúdico, e ter em mente a principal coisa. Sua consciência está limpa. Você não tem culpa de nada. Absolutamente nada.