Sempre gostei do calor, mas não a esse ponto.
Sempre segurei o fósforo no meio do palheiro.
Mesmo que a labareda descesse pela madeira até os meus dedos, eu deixo aquela chama esmaecer na minha pele, mesmo que doesse, não seria necessário deixar o fosforo cair e acontecer o incêndio. Prendia a respiração e o preto surgia em meus dedos. de pouco em pouco o suportável se tornava um ferimento angustiante e corrosivo. Não na derme, mas em meu âmago.
Foi então que notei o quão fraca eu era perante os outros....não. Foi ai que notei, que mesmo eu aguentando tanta dor apenas para mim sem queimar os outros, eu era vista como fraca. Era vista frágil e abusável e isso apenas me tornava ainda mais alvo disso, até que um dia eu poderia ser queimada como uma suposta bruxa. Tenho que acordar. Só das cinzas que nasce algo.
Não quero mais me ferir. Não quero mais ser uma porcelana fina que quebra no pouco calor, não quero me restringir ou me guardar. Eu quero nascer novamente. e dessa vez das cinzas pálidas eu terei penas lustrosas avermelhadas como as chamas e dignas de um simbolo de força.